sábado, 8 de junho de 2013

Amor à vida de quem? - parte 2


Achei fantástico o artigo da Cláudia Laitano (ver postagem anterior), e há exatamente quatro dias traduzi uma palestra em que uma das coisas que a palestrante mais frisou foi a separação entre as convicções e crenças do profissional de saúde e o seu dever como profissional. Uma pessoa, quer seja médico, enfermeiro, assistente social, etc, que trabalha com serviços de saúde não pode JAMAIS sair dando sermão e usar suas convicções e crenças para justificar negar ajuda a alguém. Muito menos é seu dever julgar quem procura ajuda. No caso da palestra se falava dos adolescentes na África (mas no Brasil não é diferente) que muitas vezes chegam a um posto de saúde para pedir conselhos sobre como evitar gravidez e o prestador de serviço manda um "Mas você lá tem idade pra transar? Tenha vergonha nessa cara!". Resultado, nunca mais esse/a adolescente volta ao posto de saúde, transa sem camisinha, pega uma doença, ou engravida com 15 anos, etc, etc. Tudo poderia ser evitado se o profissional não tivesse dado vez e voz a seus julgamentos desimportantes.

Outro dia eu comentei com uns amigos sobre como nos anos 80 os programas brasileiros mais diversos eram tão mais legais, mais abertos, menos politicamente corretos, menos cheios de satisfações a dar a igrejas podres. Onde está esse Brasil? Esse discursinho de moral e bons costumes não combina com o caráter irreverente e criativo do brasileiro. A igreja católica perdeu seu terreno para o Talibã Brasileiro, ou seja os evangélicos, que com sua ignorância profunda podem transformar o Brasil num lugar insuportável de se viver.
Espero estar errada.

Está na hora dessa gente bronzeada imitar os calhégas aqui do Oriente Médio e ir pras ruas exigir muitas mudanças e respeito aos seus direitos, dentre eles o aborto legal e público. A lei aqui em Israel é uma coisa super moderna, que espero não seja mudada: qualquer mulher que quiser fazer um aborto, seja qual for a razão, pode fazê-lo sem autorização de pai, nem mãe, nem marido, nem governo, nem polícia nem ninguém. Tem um comitê interdisciplinar que vai avaliá-la, aconselhá-la e tirar suas dúvidas antes da intervenção cirúrgica, mas não há nenhuma lição de moral, interrogatório nem pregação. A mulher é quem decide e pronto. Acho lindo e inacreditável que aqui exista uma lei assim. Resultado: quase não existem mães adolescentes desamparadas que são obrigadas a ter filhos que não conseguem criar e que se tornam pessoas frustradas para sempre. As pessoas só têm filhos quando querem e podem. Não há mais de 1 milhão de mulheres que morrem anualmente por não poderem fazer, em condições adequadas de higiene, o que de qualquer jeito farão se quiserem, pode ter inferno ou cadeia ameaçando que nada vai deter essas mulheres que não querem ser mães e só elas sabem o porquê. Não cabe a NINGUÉM julgar, nem a seus médicos. O doutor Fagundes lá da novela ficou falando que jurou na formatura salvar vidas, mas dar lição de moral e negar ajuda a uma mulher desesperada que pode se entregar a um açougueiro qualquer é o quê mesmo? Não quer fazer o aborto, tem medo de ser preso, etc, tudo bem. Mas deixar a pessoa desamparada sem outra alternativa é, numa tradução direta do hipocritês para o brasileiro, deixar de salvar uma vida.
Se fosse homem que engravidasse, DUVIDO que aborto fosse proibido em algum lugar desse mundo, DU-VI-DO. Como disse um cara que minha amiga ouviu numa oficina essa semana, "se homem engravidasse, a sala de aborto seria dentro da igreja." Essa afirmação é mais que verdadeira, infelizmente.

Homem legislar sobre coisas que apenas a mulher entende é o fim do mundo. Pior que isso só mulheres do tipo da Pilar Vieira lá da novela, com aqueles comentariozinhos machistas "tanta mulher querendo ter filho, e outras não sabem dar valor a esta dádiva". Ah, para, né? 
Até quando, Brasil, até quando????
Acho que um canal de TV deveria ser processado por mostrar uma cena de juízos de valor tão inúteis em cadeia nacional, onde a maciça maioria da população é ignorante, ainda quando sabe ler.

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